25 de fevereiro de 2006

há um ano...


" "ser cosmopolita", definiu um 'empresário' que conheci num bloco em olinda ao discutirmos nossa integração local. ontem. hoje, entretanto, num momento em que minha excitação pairante desceu a lama que sujava meus pés (calçados, por sorte e renda) entrei num estado que considero válido. não queria parecer uma "pessoa triste" como todos passariam mexendo. deveria estar lá, a pular e estar quase entrando em nirvana no supra sumo da felicidade. mas até a consciência desse ideal estado já o destruia da minha idealização massificada. resolvi sentir. mas já queria o depois. foi difícil. pois bem. tinha levado a máquina e de "pose" me fiz de fotógrafa praqueles pavãos. ao longo do percurso, (que integralmente o fiz sozinha) uma menina me pediu o guarda-chuva de frevo que eu girava. por um momento já me veio toda a cena e o desfeche lindo dela partindo feliz e eu tbm, sem o adereço. resolvi viver. qual seria nosso contato sincero? com ela eu o teria. me disse sua cidade, uma provavelmente bem pequena e pobre. e seu nome: Caoma. nós corremos por entre as pessoas, ela, pisando descalça pela água mais suja que um 4o dia consecutivo poderia dar e eu caindo na real da minha "cosmopolitidade". --------- no fim, após algumas disperções hormonais, me dei por segura na minha posição contemplativa das pessoas. houve 1 ou 2 olhares de verdade, pessoas que viram nos meus olhos algum pensamento - talvez as tenha contagiado - e no fim, ao chegar e abrir esse blog vejo as que me olharam sabem do que se trata assim como raoni. que moto contínuo eh esse? aqui em pernambuco, mais da metade da população eh pobre, pobre mesmo, ferrada. minha volta por olinda me revelou a real situação dos não cosmopolitanos locais. parecia a tão zuada feira dos paraíbas no rio. céus! aquela gente toda rebolando e ouvindo rádios berrando naquela fumaça de churrasco e eu, por dentro a ouvir todas as críticas daquela gente, críticas da grande capital rio, do jardim botânico, do bibi, do tablado.. e o sonho de muitos de ficar famoso na globo que fica onde? no rio! me senti péssima. que merda. não queria deixar a "esnobisse" me subir à cabeça. de repente o lance de karma me veio a tona. seriam aquelas almas pagadoras de suas ancestrais merdas? mas merdas pra quem? ou seria o nojo mais profundo que tenho da péssima época em que nasci.. aliás, procuro época boa pra se ter vivido.. mas será a isso eh ruim? acho que eles não acham. talvez só eu me dê o luxo de questionar tanto com minha visão cosmopolita. acho q já enchi demais esse post. é isso. no meio da ladeira, escorreguei da minha cegueira e caí numa lameira. levantei e pensei mas nada no fim acho q mudei."
# posted by Raaíss : Quarta-feira, Fevereiro 09, 2005 4:05:11 AM



hoje em santa tereza e no bola preta, (si, la boule noir)... sei lá.. não via mais sentido, não tinha mais vontade; não estava no clima talvez... a repetição do alá com o sol e o calor, e a dor nas pernas.. putz. ou recife agora, ou nada.
rave talvez?

Um comentário:

Anônimo disse...

Andei por muito tempo sem rumo...tentando me achar...não digo que foi ruim, não digo que foi bom...foi difícil...agora tenho percebido que muito embora mais sociável e mais confiante, é hora de me recolher...me separar de mim mesmo, me proteger. Curioso, não? Quanto mais sincero você se torna com vc mesmo, mais vc deve se proteger...enfim...me parece contraditório, talvez soe estranho ou obscuro...mas eu já estou acostumado com isso ;)
Pelo menos estou tranquilo...perdoe qq deselegância de minha parte, ok?
Bjos

Ps.1.: não li o seu post :P
Ps.2.: sem nome dessa vez, por coerência


Aracy

Billie

Let's Face The Music And Dance

Let's Face The Music And Dance
Dinah

Ella

O Guardador de Rebanhos - trecho

Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças. O seu pai era duas pessoas...
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou –«Se é que ele as criou, do que duvido» –«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.»
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre, E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu
Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

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