
(...)
luz branca, barulhos, 1h da manhã. corpo nu, mão enfaixada para não tirar os canos do corpo e do rosto.
frio.
- Moço! Moço! Moço!
- Tá pingando bem.
- Moça!
- Que foi?
- Ele disse que eu já morri!..
- Morreu não, graças a Deus!, tá muito viva..
- Moço! Mooooço!
a cena ao lado me incomodava. ainda mais depois do estado de delírio (ou não).
o cobertor puído, o rosto tão envelhecido... como era há 40 anos? os traços me traduziam beleza européia, algo alemão ou italiano...
- Moço!
- Uhuuu... (respondi atrás da máscara)
- Quero ir pra Urca.
e agora a Urca.
- Como é que eu vou pra Urca assim?
a paciente do outro lado vendo eu começar um diálogo sobre o frio tem a iniciativa de deixar sua nebulização e ir cobrí-la.
eu digo shhhhh dorme!
terminada minha medicação saio atrás de atendimento. nínguem. nenhuma enfermeira, nenhum médico. comento sobre minha pena ao ver alguém dizer que ELE disse que já morreu... ele fala algo sobre a força que um hospital tem , ou de uma saúde muito debilitada, de nos colocar no lugar onde costumas esquecer... resgata-se/aprende-se a humildade.
não somos nada, além do nosso mental, apenas um animal suceptível... "Humildade."
só depois fui me dar conta de que ela se parecia com a minha avó! ...
3 comentários:
Por mais q uma palavra traga consigo uma imagem, não tenho como saber o impacto q a cena te causou....q foi importante foi, até pq vc nos contou...mas pelo menos pra mim, é tão dramática essa situação...noite, sangue, hospital...tudo isso já é naturalmente agoniante...e no relato fica tão perto, o q aconteceu com a moribunda? eu pelo menos sempre torço pra q de td certo...mas nem sempre da ne? nao do jeito q a gente gostaria...
esse ''conto'' deixa um gosto amargo na boca...
tudo isso eu já naturalmente acabo tirando proveito... penso em muitas coisas, mas acho que por estar lendo um conto do Julio Cortazar, que se passava em um hospital, pude pensar em bases gramaticais pro "meu"... o conto se chama "Sra. Cora", e traduz tão bem a sensibilidade de um doente, de quando saímos do alter-mental e nos rendemos às necessidades físicas... só o corpo manda, o mental trabalha pra ele, e agora, o mental trabalha dele... como são sensíveis os doentes! Ou não! Outro conto chamado "A saúde dos doentes" fala muito bem humoradamente sobre a vivaciadade da mãe da casa em desconfiar que escondem algo dela para poupá-la... enfim! Uma desatenção pode ser a gota d'água! Ou uma dosagem errada!
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