[...]
Da classificação dos seres à classificação dos saberes
por
Olga Pombo
Olga Pombo
"Os animais dividem-se em a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) amestrados, d) leões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães soltos, h) incluídos nesta lista, i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) desenhados com um pincel finíssimo de pêlo de camelo, l) etc, m) que acabam de partir o jarrão, n) que de longe parecem moscas"
Jorge Luís Borges, "O idioma analítico de John Wilkins", Prosa completa, vol. 3, pag.111.
O que perturba neste fragmento do imaginário de Borges, o que nos coloca numa situação de desamparo, de inqualificável mal-estar, é o facto de ele nos confrontar com classificações insólitas, completamente estranhas às categorias do nosso pensamento. Nas primeiras linhas do prefácio a essa obra emblemática do nosso século que é Les Mots et les Choses (1966), Michel Foucault declara ter o livro nascido do riso provocado pela leitura do texto de Jorge Luís Borges acima citado, texto que, como Foucault escreve "sacode à sua leitura, todas as familiaridades do pensamento - do nosso pensamento, do pensamento que tem a nossa idade e a nossa geografia - abalando todas as superfícies ordenadas e todos os planos que tornam sensata para nós a pululação dos seres, fazendo vacilar e inquietando por longo tempo a nossa prática milenária do Mesmo e do Outro" (Foucault, 1966: 3).
Na verdade, nada nos parece mais "natural", óbvio e indiscutível que as classificações dos entes, dos factos e dos acontecimentos que constituem os quadros mentais em que estamos inseridos. Elas constituem os pontos estáveis que nos impedem de rodopiar sem solo, perdidos no inconforto do inominável, da ausência de "idades" ou "geografias". Só elas nos permitem orientar-nos no mundo à nossa volta, estabelecer hábitos, semelhanças e diferenças, reconhecer os lugares, os espaços, os seres, os acontecimentos; ordená-los, agrupá-los, aproximá-los uns dos outros, mantê-los em conjunto ou afastá-los irremediavelmente. [...]
[...]
Il y a le Don Quichotte de Bourdieu qui en a fait le paradigme de l’habitus clivé : les dispositions du héros ne sont plus ajustées à la réalité sociale présente. Il y a le Don Quichotte de Foucault. Pour celui-ci, le roman marque symboliquement le déclin de l’épistémè de la Renaissance fondée sur les jeux des ressemblances et des signes : les mots et les choses cessent de se confondre ; le langage se replie sur lui-même. C’est désormais autour de la représentation que s’articulera la pensée de l’âge classique.
Il y a le Don Quichotte de Bourdieu qui en a fait le paradigme de l’habitus clivé : les dispositions du héros ne sont plus ajustées à la réalité sociale présente. Il y a le Don Quichotte de Foucault. Pour celui-ci, le roman marque symboliquement le déclin de l’épistémè de la Renaissance fondée sur les jeux des ressemblances et des signes : les mots et les choses cessent de se confondre ; le langage se replie sur lui-même. C’est désormais autour de la représentation que s’articulera la pensée de l’âge classique.
Don Quichotte n’est pas l’homme de l’extravagance mais plutôt le pélerin méticuleux qui fait étape devant toutes les marques de la similitude. Il est le héros du même. Pas plus que de son étroite province, il ne parvient à s’éloigner de la plaine familière qui s’étale autour de l’Analogue. Indéfiniment, il la parcourt, sans franchir jamais les frontières nettes (...)
2 comentários:
SÒ LEIO OS SEUS!
só seios os meu
t(L)
Postar um comentário