27 de março de 2005

tofur

Tudo comecou numa tarde abafada do rio de janeiro. eu estava na livraria. pedi uma coca-com-gelo-e-limao.
avisei a bichinha (tão afetada, a coisinha) q ia buscar uns livros - sinalizando q nao pretendia sair sem pagar.
fui.
artes, comics, design... humm, nao. fui ateh as revistas. umas 7 pessoas paradas lado a lado, cada uma com sua revista-rótulo nas mãos e ninguem se falava.
ainda no meu ar intelectualóide do meu recém contato com meu pai, onde me entregara um notebook, o qual mencionou várias vezes MUITO CUIDADO... (fugi do assunto). aaaaaaaaaaahn... ah bem, escolhi umas 5 revistas, tomando cuidado pra me desviar daquela gente formatada.
após sair com ar de "independência" perante aquela massinha concentrada lendo revistas de beleza ou modelos de carro, sentei-me à mesa (não NA mesa).
após começar do INÍCIO, mesmo, de verdade, li e abri a capa, li os tópicos, e finalmente entrei na introdução. Me senti dando algum valor a formatação daquela revista, pois se pretendo trabalhar com isso, no mínimo devo considerar o trabalho nos mínimos detalhes.. .
bem. blá blá blá (o que lia vai ficar na curiosidade)... até que depois de algumas ligações e passar do tempo que cozia a espera de mamãe pra o grande resgate da valoroza peça que tinha na maleta, resolvi, de curiosidade ver o precinho da revista que tanto me identificara, (essa já era a segunda)
11,90!! uns 3 euros e pouco. fiquei chocada.
naquele instante tive um desejo súbito de ter aquela revista, talvez, e acho q justamente pelo preço se tornar um contra-tempo eu A DESEJEI MAAAAAIS.
MAS COMO?! 12 reais, e se quisesse todas elas?!, tenho que ler coisas assim pra mim, e pra o vestibular, mas isso tudo?, ai, que merda... (meu pensamento trabalhava frenéticamente por alguns milésimos de segundos antes que a mais cirstalina luz me viesse estender-me a mão naquele universo escuro de desejo de consumo frustado...
vou, de modo muito limpo, colocá-las, carinhosamente na minha pasta!
mas como?! assim??? na cara de pau?? no meio de todos(as)??!
não estava no meu dia. sabia disso. tive uma manhã conturbada, não fui a aula, muito menos ao cursinho, e menos ainda a aula de THE artístico. foi um dia meio merda tirando o mergulho nua que dei no mar. (uuu na área daqueles milicos necessitados hehe)
bom, sentia os olhares inquisidores. tentei me distanciar, como se estivesse me assistindo. tentei fazer parte da dinâmica do lugar, tentei ficar fora de mim pra sentir o "clima".
e o clima não estava propício... vou, não vou, vou, não vou.... tava foda. por vezes senti a oportunidade zunindo nos meus ouvidos "agora! vai!!!"
e deixei passar.... (afinal, o que são 40 reais em revistas....?)
lembrei da vez q fui com um amigo e saí na maior (e isso que foi o melhor, pq foi SEM QUERER, DE SEQUELA!) SEM PAGAR O MILK-SHAKE Q ACABARA DE PEDIR NO BALCÃO, SIMPLESMENTE, SEQUELEI E SAÍ CONVERSANDO COM ELE FELIZ... MAS EU ESTAVA SEM ELE. ERA EU COMIGO MESMA. ação solo.
tava foda... disfarçando, olhando o relógio... todos pareciam saber o que meus pensamentos diziam frenéticos, porém, caaaaalma por fora. esse o truque. quase estupidamente cínica, leviana, CARA-DE-PAU. de repente:
BLACKOUT
era o sinal...! só podia ser, quando mais teria um blackout?
mas luzes ficaram... merda!
e também, seria arriscado demais sair logo em seguida ao apagão e o que fiz mesmo foi permanecer estática.
(a trama já está ficando chata eu sei, mas o momento ápice já chega.)
após alguns minutos mais cheguei a brilhante conclusão:
TINHA QUE LEVAR TODAS.
2 só, que eram as q queria não daria, seria na cara, mas todas, como se já astivesse comprado... hummm era isso.
quase morro de susto quando um careca com sorriso bonito que troquei idéias e neguei telefone me tocou no braço pra dizer q gostou docabelo (visto q me conheceu qd tinha uma bandana sobre a careca de gilete).. palavrinhas rápidas... tãnãnã tchau, e era dalí a pouco, não mais. de olhos vidrados na tv, e acompanhando o movimento que havia diminuído, fechei as revistas, arrumei-as sobre elas mesmas e
num movimento muito limpo, inacreditável aos olhos de quem visse, meti todas dentro.
fechei o ziper.
coração disparado.
q qqer momento viriam me interceptar, mas tinha q ser alí... continuei sentada.
peguei o cel, e fingi (numa expressão irritada, com sono e cansada, forjei um papo com minha mae, dizendo q esperei muito ali, tava cansada e TAVA INDO EMBORA. "deliguei", com segurança na face, coloquei a mochila, a pasta e ainda dei um tchauzinho pra bichinha.
me encaminhei devagar em direção ao caixa, parei, peguei um folder na maior cara de pau, dei uma lidinha e sai (com vários flashes do meu flagra pra acontecer a qqer passo da minha saída) e com passos arrastados sai (SAÍ!!) da loja. ainda parei em frente a ela, quase q dando mais uma oportunidades de virem me interceptar e desci..
desci as escadas, ainda olhei pra cima pra loja, e sai, saiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!
e cá estou, após pegar o carro de mamãe de tanto q me fiz essa noite após essa aventurazinha (ainda roubo banco hahahaaha) e amanhã vou lê-las, com caaaalma.
tem que rolar um final:
não importa quanto custou, o q importa é que foi em prol de todos.
amanhã poderei servir os filhos deles com o conhecimento q estrairei desse furto cultural.
mais que perdoado. Orgulho nacional, caráter brasileiro! Viva a corrupção! (como tive a coragem de postar isso?)

para Hàtzi Füldenn,

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Aracy

Billie

Let's Face The Music And Dance

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Dinah

Ella

O Guardador de Rebanhos - trecho

Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças. O seu pai era duas pessoas...
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou –«Se é que ele as criou, do que duvido» –«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.»
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre, E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu
Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

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